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Sócrates e Jesus Cristo

a relação entre a fé e a razão

Sócrates e Jesus Cristo: a relação entre a fé e a razão

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Resumo

[Introdução] Trabalho cujo escopo de pesquisa visa investigar a relação entre a fé e a razão, mediante a comparação entre as histórias de vida do Filósofo Sócrates e de Jesus Cristo. [Metodologia] Por meio da pesquisa dogmática e instrumental, e das técnicas bibliográfica e documental de pesquisa, sistematizou-se livros específicos e de documentos oficiais, como a encíclica fé e razão e de trechos bíblicos, a fim de investigar a relação entre a fé e a razão pela comparação entre Sócrates e Jesus Cristo. [Resultados] A análise crítica de livros especializados, de trechos bíblicos e da encíclica fé e razão demonstrou alguns pontos de contato entre o histórico de vida de Sócrates e a passagem de Jesus Cristo. A encíclica fé e razão mostrou a importância da filosofia para a interpretação e concretização das idéias contidas nos documentos bíblicos, e o papel da fé no descobrimento de novos horizontes para o conhecimento filosófico. [Conclusão] O período da pós-modernidade – ao mesmo tempo em que apresenta uma crítica ao contexto religioso posto, em razão das transformações científicas, tecnológicas e culturais – permite a pessoa o acesso às informações. Assim, a comparação e a cooperação entre a fé e a razão poderá possibilitar ao sujeito a busca pelo conhecimento.

 Palavras-chave: Sócrates; Jesus Cristo; Fé; Razão; Filosofia; Conhecimento Filosófico.


1 Considerações iniciais

"Oculos habent et nom videbunt"

Em nossa vida cotidiana, afirmamos, negamos, desejamos, aceitamos ou recusamos coisas, pessoas, situações. Fazemos perguntas, dizemos frases, avaliamos coisas e pessoas. Quando se fazem certas afirmações, acredita-se que existem relações de causa e efeito entre as coisas. Acredita-se, assim, que a realidade é feita de causalidades; que as coisas, os fatos, as situações se encadeiam em relações causais que podemos conhecer e, até mesmo, controlar o uso de nossa vida.

Acreditamos que o espaço existe, possui qualidades (perto, longe, alto, baixo) e quantidades, podendo ser medido (altura, largura, comprimento).

A necessidade de um alicerce sobre o qual construir a existência pessoal e social se faz sentir de maneira premente, principalmente quando se é obrigado a constatar o caráter fragmentário de propostas que elevam o efêmero ao nível de valor, iludindo assim a possibilidade de se alcançar o verdadeiro sentido da existência. [01]

Em plena época pós-moderna, em que as transformações culturais, científicas e tecnológicas chegam em grande velocidade, e o sujeito retorna ao centro das discussões sociais, a acuidade dos dados históricos (em razão das novas ferramentas de estudo) e o grande número de informações (aumentadas substancialmente com o desenvolvimento da tecnologia da informação, cujo grande exemplo é a internet) começam a entrar em confronto com o contexto religioso até então existente.

Nossa Constituição, mesmo que promulgada em 05 de outubro de 1988, reflete, em seus aspectos fundamentais, os valores pós-modernos discutidos. A dignidade da pessoa humana entra em xeque (CF, art. 1º, III), e os valores religiosos (CF, art. 5º, VI) e os pensamentos filosóficos (CF, art. 5º, VIII) podem ser discutidos no âmbito da pluralidade de idéias e valores (CF, art. 1º, V), pela livre manifestação do pensamento (CF, art. 5º, IV).

Acredita-se que a Filosofia nada mais é do que a decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido.

Imagine se as pessoas começassem a fazer perguntas inesperadas, como "O que é o sonho? A loucura? A razão? O que é causa, efeito?" Ao se fazer questionamentos deste tipo, estaríamos nos distanciando da vida cotidiana e de nós mesmos, passando a indagar o que são as crenças e os sentimentos que alimentam, silenciosamente, nossa existência. Estaríamos interrogando a nós mesmos, desejando conhecer por que cremos, no que cremos, por que sentimos o que sentimos e o que são nossas crenças e nossos sentimentos. Estaríamos adotando, pois, a chamada Atitude Filosófica.

A atitude filosófica se inicia dirigindo tais indagações ao mundo que nos rodeia e às relações que mantemos com ele. Pouco a pouco se descobre, porém, que essas questões se referem à nossa capacidade de conhecer, de pensar. Por isso, pouco a pouco as perguntas da Filosofia se dirigem ao próprio pensamento.

A Filosofia se torna, então, o pensamento interrogando-se a si mesmo, uma volta que o pensamento realiza sobre si mesmo, como uma Reflexão. Logo, a reflexão filosófica é radical porque é um movimento de volta do pensamento sobre si mesmo para conhecer-se a si mesmo, para indagar como é possível o próprio pensamento.

O conhecimento filosófico é um trabalho intelectual. É sistemático porque não se contenta em obter respostas para as questões colocadas, mas exige que as próprias questões sejam válidas e, em conseqüência, que as respostas sejam verdadeiras, estejam relacionadas entre si, esclareçam umas às outras, formem conjuntos coerentes de idéias e significações, sejam provadas e demonstradas racionalmente.

Em poucas palavras, a Filosofia se interessa por aquele instante em que a realidade natural (o mundo das coisas) e a história (o mundo dos homens) se tornam estranhas, incompreensíveis e enigmáticas, quando o senso comum já não sabe o que pensar e dizer e as ciências e as artes ainda não sabem o que pensar e dizer.

Dentro desse contexto, um dos aspectos marcantes dos dias de hoje é um interesse crescente pela vida espiritual. Porém, o cidadão moderno é mais participativo e procura aliar a razão à fé, o conhecimento à doutrina.

Nesse sentido, Jesus Cristo (talvez a personalidade mais conhecida em todas as culturas) começa a ter sua vida investigada por estudos históricos, os quais entram em conflito com as informações reveladas pelo Vaticano nos trechos dos Evangelhos, colocados à disposição dos fiéis.

Com efeito, a comparação da vida do Cordeiro com o filósofo Sócrates, torna-se – pois – possível, tendo em vista a grande semelhança existente entre o perfil, a metodologia empregada e alguns dos valores contidos nos ideais defendidos por cada um.

Assim, é importante destacar que não se pretende desmistificar nenhuma das duas figuras (uma, a essência da filosofia; a outra, a pedra de torque da fé), mas sim apresentar características situadas nos respectivos contextos e fontes de pesquisa.

Nessa perspectiva, perquire-se: qual a importância dessa comparação para o Direito? Além do embate filosófico-teológico já ter sido objeto de análise comparativa com o Direito [02], é justamente nas asas da fé e da razão que se pretende voar (pelo menos) em direção à apresentação de fundamentos que situem a importância da razão para a teologia e da fé para a filosofia, pois a relação entre fé e razão reflete na estrutura argumentativa da ciência jurídica. Estudar – pois – estes elementos (apresentando-os no Capítulo 1, com uma resenha da vida de Sócrates, contextualizando o mistério do Cordeiro, com dados sobre Jesus Cristo no Capítulo 2), explicitando a relação entre eles (a fé e a razão – Capítulo 3), constitui – sem dúvida – um interessante convite à continuação de um debate acerca dos fundamentos e da importância da Palavra de Deus e da Filosofia para a formação da pessoa humana.


2 A vida de Sócrates

"Scio quod nihil scio"

2.1 Prolegômenos

Sócrates nasceu em 470 (ou nos primeiros meses de 469) a.C. O pai, Sofronisco, era escultor; a mãe, Fenarete, parteira. Completou em Atenas a sua educação juvenil (tem-se que ele provavelmente estudou geometria e astrologia). Só se ausentou de Atenas por três vezes, para cumprir os deveres de soldado, tendo participado nas batalhas de Potideia, Délios e Anfípolis.

Sócrates se manteve afastado da vida política. Sua vocação, tarefa a que se dedicou e a que se manteve fiel durante toda a vida, foi a filosofia. Entretanto, compreende a investigação filosófica como um exame incessante de si próprio e dos outros, ao qual dedicou – sem nenhum ensinamento regular – todo o seu tempo. Por essa tarefa, viveu pobremente com sua mulher (Xantipa) e filhos.

Sua figura não tinha qualquer dos traços tradicionalmente utilizados para delinear o caráter de outros sábios. Sua personalidade tinha qualquer coisa de estranho e inquietante que não escapava àqueles que dele se aproximavam e o descreveram. Sua própria aparência física chocava o ideal helênico (ou seja, relativo à Grécia antiga) da alma sábia num corpo belo e harmonioso. Graças ao aspecto inquietante de sua personalidade, fôra comparado por Platão à tremelga ("que entorpece quem a toca"): do mesmo modo, provocava a dúvida e a inquietação no ânimo daqueles que dele se aproximavam. [03]

Destaca-se que este homem – o qual se dedicou inteiramente à filosofia, e por ela morreu – nada escreveu. Tem-se, pois, o maior paradoxo da filosofia grega, mas não um fato casual. Isso porque, se Sócrates nada escreveu, foi porque defendia que a pesquisa filosófica (tal como ele a entendia e praticava) não podia ser levada adiante ou continuada depois dele, por escrito.

Nas palavras do rei egípcio Thamus, dirigidas a Theut, inventor da escrita:

"Tu ofereces aos alunos a aparência, não a verdade da sabedoria; porque quando eles, graças a ti, tiverem lido tantas coisas sem nenhum ensinamento, julgar-se-ão na posse de muitos conhecimentos, apesar de permanecerem fundamentalmente ignorantes, e serão suportáveis para os demais, porque terão não a sabedoria, mas a presunção da sabedoria." [04]

Para Sócrates, o qual entende o filosofar como exame incessante de si mesmo e dos outros, nenhum escrito pode suscitar e dirigir o filosofar. O escrito pode comunicar uma doutrina, não estimular a pesquisa.

Assim, a renúncia de Sócrates a escrever se deveu (e fez parte essencial) à sua própria atitude filosófica.

2.2 A personalidade de Sócrates

Tendo em vista a renúncia acima descrita, difícil se faz a caracterização da personalidade de Sócrates, o que é feito através de testemunhos indiretos, como estes: (a) Xenofonte (pessoa ouço dotada de espírito filosófico) nos passa uma imagem extremamente pobre e mesquinha da personalidade de Sócrates; nada no seu retrato justifica a enorme influência que este filósofo exerceu sobre todo o desenvolvimento do pensamento humano; (b) já nos diálogos de Platão, a personalidade de Sócrates vive poderosamente; todavia, é possível que Platão, nesses casos, pense e fale ele próprio na figura de Sócrates e que, portanto não se possa encontrar nos seus diálogos o Sócrates histórico; (c) por fim, Aristóteles nada acrescenta ao já exposto por Xenofonte e Platão. [05]

Tendo em vista a brevidade das relações de Xenofonte com Sócrates, e o fato de os testemunhos de Aristóteles parecerem depender – em grande medida – de Platão (e talvez do próprio Xenofonte), tem-se – como fonte fundamental para a reconstrução do Sócrates histórico – Platão. [06]

2.3 "Conhece-te a ti mesmo"

Cícero, ao proferir que "Sócrates fez vir a filosofia do céu à terra", exprime exatamente o caráter da investigação socrática, a qual tem por objeto – exclusivamente – o homem e seu mundo, ou seja, a comunidade em que vive. [07] Sócrates buscava promover no homem a investigação em torno do homem, o que deve tender a pôr o homem (isto é, cada homem individual) a claro consigo mesmo, a levá-lo ao reconhecimento de seus limites, e a torná-lo justo, solidário com os outros.

Por isso a expressão adotada por ele mesmo ("Conhece-te a ti mesmo"), fazendo do filosofar um exame incessante de si próprio e dos outros: de si próprio em relação aos outros, e dos outros em relação a si próprio.

A primeira condição desse exame é o reconhecimento da própria ignorância. Quando Sócrates conheceu a resposta do oráculo que o proclamava o homem mais sábio de todos, compreendeu – então – o seu verdadeiro significado: nenhum dos homens sabe verdadeiramente nada, mas é sábio apenas quem sabe que não sabe, não quem se ilude com saber e ignora assim até a própria ignorância. Na verdade, só quem sabe que não sabe procura saber, ao passo que os que crêem estar na posse de um saber fictício não são capazes da investigação, não se preocupam consigo mesmos e permanecem irremediavelmente afastados da verdade e da virtude.

O meio utilizado para promover nos outros este reconhecimento da própria ignorância é a ironia. Trata-se da interrogação que tem por objetivo revelar ao homem a sua ignorância, abandonando-o à dúvida e à inquietação, obrigando-o à pesquisa. A ironia é o meio de se descobrir a nulidade do saber fictício.

A ironia é a arma que Sócrates utiliza contra a vaidade do ignorante que não sabe que o é e, por isso, se recusa a examinar-se a si mesmo e a reconhecer os próprios limites. Por isso, é também uma libertação.

2.4 Maiêutica

Sócrates não se propõe, assim, a comunicar uma doutrina (ou complexo de doutrinas); não ensina nada, apenas comunica o estímulo e o interesse pela pesquisa. Nesse sentido, compara a sua arte à de sua mãe, a parteira Fenarete: a sua arte consiste basicamente em averiguar – por todos os meios – se o seu interlocutor tem para parir algo de fantástico e falso ou de genuíno e verdadeiro; declara-se estéril quanto à sabedoria; aceita como verdadeira a censura que muitos lhe dirigem de saber interrogar os outros, mas de nada sabe responder ele próprio. [08]

Ele não tem qualquer interesse em ensinar os outros, senão em ajudá-los em seu parto intelectual. E os outros (aqueles que dele se aproximam), a princípio, parecem completamente ignorantes, mas depois sua pesquisa se torna fecunda, sem que – todavia – nada recebam dele.

Assim, esta arte maiêutica nada mais é do que a arte de pesquisa em comum. O homem não pode ver claro por si só. A investigação de que se ocupa não pode começar e acabar no recinto fechado da sua individualidade, mas sim ser o fruto de um dialogar contínuo com os outros, bem como consigo mesmo.

O universalismo socrático não é a negação do valor dos indivíduos, mas o reconhecimento de que o valor do indivíduo só pode ser compreendido e realizado nas relações entre os indivíduos; todavia, deve essa relação entre os indivíduos ser fundada na virtude e na justiça.

Eis aqui o interesse de Sócrates: promover em cada homem a investigação de si próprio, retornando naturalmente à problemática da virtude e da justiça.

2.5 O saber e a virtude

A busca de si é, ao mesmo tempo, a busca do verdadeiro saber e da melhor maneira de viver; é – simultaneamente – investigação do saber e da virtude, conceitos estes que – segundo Sócrates – se identificam.

O homem não pode tender senão para saber aquilo que deve fazer ou aquilo que deve ser; tal saber é a própria virtude. Esse é o princípio fundamental da ética socrática.

Para Sócrates, uma ciência que seja incapaz de dominar o homem e que o abandone à mercê dos impulsos sensíveis, nem sequer parece uma ciência. Se o homem se entrega a esses impulsos, significa que ele sabe ou crê saber que essa é a coisa mais útil ou mais conveniente para ele. A ignorância (ou seja, um erro de juízo) é a base de toda a culpa e de todo o vício; uma má avaliação é que faz o homem preferir o prazer momentâneo, independente das conseqüências más ou dolorosas que daí possam advir; e um cálculo errado é fruto da ignorância. Quem verdadeiramente sabe, faz bem os seus cálculos, escolhe em cada caso o melhor prazer (aquele que não lhe trará dor nem mal), e esse é o prazer da virtude.

Assim, para ser virtuoso, não é necessário que o homem renuncie ao prazer. A virtude não é a negação da vida humana, mas sim a vida humana perfeita (engloba o prazer à prazer máximo).

O que se pode censurar a Sócrates é não ter estabelecido as distinções entre as atividades ou faculdades humanas que Platão e Aristóteles introduziram na filosofia. Para Sócrates, o homem é um ser indivisível. O seu saber não é apenas a atividade do seu intelecto ou da sua razão, mas sim um modo de ser e de se comportar. Segundo Sócrates, a virtude é ciência, é investigação (investigação autônoma dos valores em que a vida deve se fundar).

2.6 A religião de sócrates

Para Sócrates, o filosofar é uma missão divina, uma tarefa confiada por ordem divina. Fala de um demônio, de uma inspiração divina que o aconselha em todos os momentos decisivos de sua vida, demônio este o qual pode-se interpretar como a voz da consciência; na verdade, trata-se do sentimento de uma investidura recebida do alto, própria de quem abraçou uma missão com todas as suas forças. Por isso, o sentimento da divindade está sempre presente na investigação socrática, como sentimento do transcendente, daquilo que está além do homem, é superior a este, e do alto o guia e lhe oferece uma garantia providencial.

Certamente, a divindade de que fala Sócrates não é a da religião popular dos Gregos, tampouco tem a ver com o cristianismo (de que, na velha historiografia, Sócrates tem sido freqüentemente considerado precursor). Aquilo que a divindade ordena, segundo Sócrates, é o empenho na investigação e o esforço aplicado à justiça; quanto à verdade e à virtude, o homem deve procurá-la e realizá-la por si.

2.7 Das investigações socráticas

Aristóteles caracterizou a investigação de Sócrates do ponto de vista lógico. Pode-se atribuir a ele os raciocínios indutivos e definição do universal (ambos dizem respeito ao princípio da ciência).

O raciocínio indutivo é aquele que, do exame de um certo número de casos ou afirmações particulares, conduz a uma afirmação geral que exprime um conceito. Assim, a Sócrates cabe o mérito de ter sido o primeiro a organizar a investigação segundo um método propriamente científico.

Foi posto em dúvida o valor do testemunho aristotélico sobre o significado lógico da investigação socrática, tendo em vista que as afirmações de Aristóteles derivariam das de Xenofonte, e estas – por sua vez – das platônicas. Por outro lado, ainda que se atribuísse todo o valor aos testemunhos de Aristóteles e Xenofonte, não caberia a Sócrates o título de inventor do conceito, pelo fato de ter investigado apenas conceitos ético-práticos, o que exprime não aquilo que realmente é, mas sim o que deve ser. [09]

Todavia, a questão fundamental é a do significado do conceito para Sócrates. É certo que todos os conceitos elaborados por Sócrates são de caráter ético-prático, e respeitam o dever-se e não a realidade de fato, mas qualquer conceito (seja teórico ou prático) tem por objeto a essência das coisas, o seu ser permanente ou a sua substância, ou seja, o problema que Sócrates deixaria a seus sucessores, e que constitui o tema fundamental da investigação de Platão e Aristóteles.

2.8 A morte de Sócrates

Grande era a influência exercida por Sócrates sobre toda uma geração em Atenas, quando três cidadãos (Melito, Ânito e Lícon) o acusaram de corromper a juventude, ensinando crenças contrárias à religião do Estado. [10] A acusação era escassa e não teria dado nenhum resultado, se Sócrates tivesse feito qualquer concessão aos juízes, o que não ocorreu. Pelo contrário: declarou que em nenhum caso abandonaria essa tarefa (ou seja, a tarefa educativa que havia empreendido relativamente aos atenienses), a qual era chamado por uma ordem divina. Por uma pequena maioria, Sócrates foi considerado culpado, seguindo-se a condenação à morte pedida por seus acusadores.

Trinta dias decorreram entre a condenação e a execução, em decorrência de uma solenidade sagrada que, naquele período, impedia as execuções capitais. Durante esse período, os amigos de Sócrates organizaram sua fuga, procurando convencê-lo, mas ele recusou. Sócrates queria dar, com sua morte, um testemunho decisivo a favor do seu ensinamento. Vivera até então ensinando a justiça e o respeito pela lei; não podia – pela fuga – ser injusto para com as leis de sua cidade e desmentir, assim, no momento decisivo, toda a sua obra de mestre.

Por outro lado, não temia a morte. Ainda que não tivesse certeza absoluta da imortalidade da alma, nutria a esperança de uma "vida após a morte" que fosse melhor para os homens justos que para os maus. Na época, Sócrates tinha 70 anos; sentia que havia completado sua missão, que a ela havia permanecido fiel durante toda a vida, e que deveria lhe dar – com a morte – a última prova de fidelidade.

Suas últimas palavras, proferidas a seus discípulos, foram – ainda – um incitamento à investigação:

"Se tiverdes cuidado com vós próprios, qualquer coisa que façais ser-me-á grata, bem como aos meus e a vós mesmos, ainda que agora não vos empenheis em nada. Mas se pelo contrário não vos preocupardes com vós próprios e não quiserdes viver de maneira conforme àquilo que agora e no passado vos tenha dito, fazer-me agora muitas e solenes promessas de nada servirás." [11]


3 Jesus Cristo: rosto divino do homem, face humana de Deus

"Et verbum caro factum est"

3.1 Prolegômenos

Em plena época pós-moderna, em que as transformações culturais, científicas e tecnológicas chegam em grande velocidade, e o sujeito retorna ao centro das discussões sociais, a acuidade dos dados históricos (em razão das novas ferramentas de estudo) e o grande número de informações (aumentadas substancialmente com o desenvolvimento da tecnologia da informação, cujo grande exemplo é a internet) começam a entrar em confronto com o contexto religioso até então existente.

Nesse sentido, Jesus Cristo, talvez a personalidade mais conhecida em todas as culturas, começa a ter sua vida investigada por estudos históricos, os quais entram em conflito com as informações reveladas pelo Vaticano nos trechos dos evangelhos, colocados à disposição dos fiéis.

Com efeito, a comparação da vida do Cordeiro com o filósofo Sócrates, torna-se, pois, possível, tendo em vista que ambos eram considerados pessoas enigmáticas na época em que viveram, além de não terem deixado nenhum registro escrito de suas idéias.

No que tange à confiabilidade nos relatos deixados pelos discípulos de Jesus, sabe-se que há mais de cinco mil manuscritos do Novo Testamento existentes até hoje, o que o torna o mais bem documentado dos escritos antigos. Muitas cópias pertencem a uma data próxima dos originais. Há aproximadamente 75 fragmentos datados desde 135 d.C. até o século oito. Todos esses dados, acrescidos ao trabalho intelectual produzido pelos estudiosos da paleografia, arqueologia e crítica textual, asseguram que o texto do Novo Testamento é fidedigno.

A grande semelhança existente entre estes famosos personagens da história reside no fato de ambos serem mestres na retórica. Assim como Sócrates, Jesus instigava seus discípulos a desenvolver a arte de pensar e, para isso, usava a arte da dúvida. Eles possuíam tanta autoconfiança no que diziam, por acreditarem falar em nome de alguém que era maior do que eles, que tanto arrebatavam quanto irritavam seus ouvintes. Por fim, essa postura autêntica lhes arrebatou a vida [12].

Assim, procede-se nessa parte com a análise dos evangelhos, os quais contam a passagem da vida de Jesus entre os homens, além de se compilar dados de pesquisas contidas em bíblias [13]que catalogam as ações de Jesus Cristo.

3.2 O mistério dentro do mistério: o nascimento virginal é uma lenda? onde Jesus viveu sua adolescência e o começo de sua vida adulta?

A concepção virginal de Jesus Cristo não há como ser provada com argumentos meramente teológicos, pois, afinal, essa é uma questão de fé. No entanto, os cristãos da época e na atualidade acreditam nela, por causa dos relatos constantes nos quatro evangelhos e pelas evidências que muitos alegam ter.

O argumento mais relevante para a aceitação messiânica de Jesus era o fato dele descender da linhagem de Davi, pois todas as profecias assim arvoravam a respeito do Cristo. Por isso, tanto Mateus quanto Lucas deixaram claro que José e Maria eram descendentes da tribo de Judá — tribo de Davi [14].

Os evangelistas retratam o nascimento, a infância (até os doze anos) e a pregação de Jesus, a qual se iniciou por volta dos trinta anos. Nesse sentido, muitos entre historiadores, religiosos, leigos questionam: onde Jesus viveu o restante de sua vida?

O evangelista Lucas faz um breve resumo da infância e adolescência de Jesus afirmando que o menino crescia, e se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele. Aos 12 anos, ele acompanha seus pais ao templo de Jerusalém para a celebração da Páscoa e se perde durante alguns dias, ficando nos pátios do templo de Jerusalém, escutando e questionando os sacerdotes, discorrendo a respeito de aspectos da lei judaica com tanta segurança e imprimindo um significado ao templo que jamais fora dado por alguém, a ponto de deixá-los espantados [15].

Muitos teólogos acreditam, em uma interpretação sistemática de todas as suas parábolas e feitos, que Jesus pode ter passado esta época de sua vida na Índia, em razão das técnicas demonstradas ao realizar os seus feitos. Não é a toa que o Papa João Paulo II tem como um dos seus exemplos de países orientais a Índia, ao tratar da relação entre fé e razão, como se depreende:

"O meu pensamento vai espontaneamente até às terras do Oriente, tão ricas de tradições religiosas e filosóficas muito antigas. Entre elas, ocupa um lugar especial a Índia. Um grande ímpeto espiritual leva o pensamento indiano a procurar uma experiência que, libertando o espírito dos condicionamentos de tempo e espaço, tenha valor absoluto. No dinamismo dessa busca de libertação, situam-se grandes sistemas metafísicos." [16]

Outros teólogos, no entanto, afirmam que Jesus, durante esse período de sua vida, que durou cerca de 18 anos, permaneceu nas imediações de Nazaré e, nesse período de anonimato, analisou suas experiências e as limitações humanas, mergulhando em si mesmo, pois como Deus, ele conhecia a ansiedade, a discriminação social e as aflições humanas, mas nunca as tinha vivido [17].

Com efeito, segundo uma linha esotérica-cristã, o que muitos não sabem é que os ensinamentos internos que Jesus ministrava a seus discípulos foram, em grande parte, incorporados à Bíblia, embora sob o véu de uma linguagem alegórica, sendo também preservados em vários documentos pouco conhecidos do público. [18]

3.3 A personalidade de Jesus Cristo

Os evangelhos retratam Jesus como um homem coerente, dócil, gentil, simples, perspicaz, audacioso, poético, feliz e muito inteligente. Ele gostava de jantar na casa das pessoas e de ter longas conversas com elas. Tanto os ricos quanto os pobres e miseráveis tinham acesso a ele. Algumas de suas características fogem completamente ao padrão psicológico previsível. Ele proclamava ser imortal, mas amava ter amigos mortais. Sob o risco de morrer, ele, como qualquer ser humano, devia bloquear sua memória e reagir por instinto, expressando medo e ansiedade. Mas, os relatos bíblicos nos mostram que Jesus abria as janelas da sua inteligência e gerenciava seus pensamentos como ninguém o fez na História [19].

Em sua humanidade, demonstrou características que as pessoas, em sua maioria, almejam possuir, tais como: a paciência, a tolerância, a capacidade de superação do medo, a singeleza, o domínio próprio, o diálogo aberto, a capacidade de contemplar o belo nas pequenas coisas.

A despeito de sua natureza divina, Jesus possuía inquietações humanas, como cair, conquistar pessoas, ser rejeitado, superar sua angústia no Getsêmani; mas tinha a certeza divina nos pontos que envolviam sua natureza transcendental, fato este que o fazia discorrer sobre a superação da morte e sobre a eternidade com uma convicção que deixa os estudiosos perplexos.

Meses antes de morrer, Jesus estava muito famoso. Milhares de pessoas o seguiam. Contudo ele não perdeu as suas raízes e nem abandonou a simplicidade que lhe era peculiar.

O dia de sua morte foi movimentado. Por volta do meio dia, os três condenados, Jesus e os dois ladrões, estavam pendentes, completamente nus em cruzes, no monte conhecido como Gólgota ou Caveira [20]. Porém, Jesus, crucificado no centro, chamava a atenção, pois fora condenado devido a uma trama que misturou intolerância religiosa, interesses políticos e uma boa quantidade de acusações falsas. No entanto, mesmo naquele momento extremo, suas palavras continuavam carregadas de sensibilidade, paciência e ternura.

3.4 O mistério da cruz: a revelação do Pai

Na base de toda a reflexão efetuada pelos evangelhos, está a consciência de que a Jesus Cristo é o mensageiro que vem do próprio Deus, pois o conhecimento proposto ao homem não provém de uma reflexão de natureza humana, mas de se ter acolhido na fé a palavra de Deus [21]. Com efeito, na origem humana existe um encontro que diz respeito a um mistério escondido pelos séculos [22], mas revelado: por meio de Jesus Cristo, a palavra que se fez carne, tem-se acesso ao Pai no Espírito Santo, tornando-se participantes da natureza divina. [23]

Trata-se da demonstração de amor de Deus à humanidade, a medida que entregou a vida de seu Filho para salvar o homem de seus pecados e delitos. [24] A morte, para Jesus, não existia. Deus quis ser homem e, mesmo ilimitado, aprisionou-se num corpo frágil e limitado, expressando por diversas vezes que era o filho do homem, revelando, assim, sua natureza humana. Logo, a fé em Jesus implica na aceitação do mistério de sua dupla natureza, divina e humana, que não se confundem, mas estão indissoluvelmente unidas.

É isso, por exemplo, que o evangelista João retrata quando Jesus expressa a comparação à Nicodemos:

"(…) Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o filho do homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna. Pois Deus amou tanto o mundo, que deu o Seu Filho unigênito, para que não morra todo o que Nele crer, mas, tenha a vida eterna. De fato, Deus não enviou o Seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. (…)" [25]

Portanto, é uma iniciativa completamente gratuita de Deus, a fim de salvar a humanidade, pois Ele deseja dar-se a conhecer e este tipo de conhecimento adquirido leva à plenitude qualquer outro conhecimento. [26] É o que retrata o apóstolo Paulo, na Epístola aos Efésios, quando anuncia o valor da graça divina, trazida pela ressurreição de Jesus Cristo, asseverando que é pela graça que o homem será salvo, mediante a fé. [27]

3.5 Leitura dos atos dos apóstolos: uma síntese da passagem de cristo

Simão Pedro, o primeiro apóstolo de Jesus, em visita a Cornélio, primeiro estrangeiro convertido ao cristianismo [28], na cidade de Cesaréia, fez uma retrospectiva dos atos de Jesus, a qual se justifica transcrever:

"Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judéia, a começar pela Galiléia, depois do batismo pregado por João: como Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder. Ele andou por toda a parte, fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio; porque Deus estava com Ele. E nós somos testemunhas de tudo o que Jesus fez na terra dos judeus e em Jerusalém. Eles o mataram, pregando-o numa cruz. Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia, concedendo-lhe manifestar-se não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus havia escolhido: a nós, que comemos e bebemos com Jesus, depois que ressuscitou dos mortos. E Jesus nos mandou pregar ao povo e testemunhar que Deus o constituiu Juiz dos vivos e dos mortos. Todos os profetas dão testemunho d’Ele: ‘Todo aquele que crê em Jesus recebe, em seu nome, o perdão dos pecados’". [29]

Assim, até os dias de hoje, a mensagem de Jesus Cristo, cuja síntese concentra-se no amor de Deus para com o homem e no amor que se deve ter ao próximo, revelada por meio dos evangelhos, é propagada e influencia a vida de incontável número de pessoas, de todas as religiões, línguas, raças e nações.


4 A relação entre a fé e a razão

"Per Deum intelligo ens absoluta infinitum id est, substantian consistiatun infinitis attributis quorun uniquo fue a eternam et infinitam essentia exprimit"

4.1 Prolegômenos

A fé e a razão constituem as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. As questões fundamentais, que caracterizam a existência da pessoa humana, apareceram em diversas culturais de diversos locais, encontrando-se nos diversos escritos as seguintes indagações: "Quem sou eu? De onde venho e para onde vou? Por que existe o mal? O que existirá depois desta vida?". [30]

Nesse sentido, o Papa João Paulo II, assevera (na encíclica fé e razão) que a Igreja não é alheia e nem pode sê-lo a esse caminho de pesquisa, afirmando que dentre os inúmeros serviços oferecidos à humanidade, o dizer ao próximo a verdade é o que possui a responsabilidade peculiar, pois procura-se obter a mais exata compreensão, a fim de aproximar a verdade com toda a sua força e simplicidade da pessoa humana. [31]

Com efeito, é importante destacar as palavras do Papa João Paulo II (à época chefe supremo da Igreja) sobre o conhecimento da verdade e o conceito de filosofia:

"Variados são os recursos que o homem possui para progredir no conhecimento da verdade, tornando assim cada vez mais humana a sua existência. De entre eles sobressai a filosofia, cujo contributo específico é colocar a questão do sentido da vida e esboçar a resposta: constitui, pois, uma das tarefas mais nobres da humanidade. O termo filosofia significa, segundo a etimologia grega, ‘amor à sabedoria’. Efetivamente, a filosofia nasceu e começou a desenvolver-se quando o homem principiou a interrogar-se sobre o porquê das coisas e o seu fim. Ela demonstra, de diferentes modos e formas, que o desejo da verdade pertence à própria natureza do homem. Interrogar-se sobre o porquê das coisas é uma propriedade natural da razão, embora as respostas, que esta aos poucos vai dando, se integrem num horizonte que evidencia a complementaridade das diferentes culturas que o homem vive." [32]

João Paulo II ainda ressalta a estrutura do conhecimento filosófico que inspira as legislações nacionais e internacionais para regular a vida em sociedade, estrutura de pensamento esta que influenciou as civilizações do Ocidente e do Oriente. Não obstante, o Papa ressalta que "cada povo possui a sua própria sabedoria natural, que tende, como autêntica riqueza das culturas, a exprimir-se e a maturar em formas propriamente filosóficas". [33]

Nesse contexto, o papel da filosofia para a Igreja é fundamental no sentido de aprofundar a compreensão da fé e de comunicar a verdade do Evangelho aos que não a conhecem ainda, vendo na filosofia o caminho para conhecer verdades fundamentais relativas à existência do homem, tendo o esforço da razão reconhecido em tornar cada vez mais digna a vida humana. [34]

4.2 O encontro entre a fé e a razão

Um dos maiores cuidados que os filósofos do pensamento clássico tiveram foi o de purificar de formas mitológicas a concepção que os homens tinham de Deus. Nesse sentido, o Apóstolo Paulo ligou seu discurso ao pensamento dos filósofos, os quais possuiam conceitos mais respeitosos sobre a transcedência divina [35], pois para se fazer compreender entre os pagãos, não se podia apenas citar as escrituras sagradas, tendo que se utilizar do conhecimento natural de Deus e da consciência moral de cada um [36], tomando o cuidado para sua mensagem não ser interpretada como uma idolatria [37].

A esse respeito, assevera João Paulo II que desde a poesia (primeira tentativa do homem de compreender Deus), os pais da filosofia tiveram por missão mostrar a ligação entre a razão e a religião, procurando dar fundamento racional, segundo os princípios universais, à sua crença na divindade, correspondendo assim às exigências da razão universal, verificando-se, de forma crítica, aquilo em que se acreditava e purificando-se (pelo menos em parte) a religião por meio da análise racional. [38]

Dessa forma, João Paulo II confirma mais uma vez a harmonia fundamental entre o conhecimento filosófico e o conhecimento da fé: "a fé requer que seu objeto seja compreendido com a ajuda da razão; por sua vez a razão, no apogeu de sua indagação, admite como necessário aquilo que a fé representa." [39]

4.3 O drama da separação da fé e da razão

Com o surgimento das universidades, foi reconhecida a autonomia científica da teologia e da filosofia. No entanto, a partir da baixa Idade Média, a distinção legítima dos conhecimentos passou a se tornar uma abrupta separação, em virtude de um espírito excessivamente racionalista de alguns pensadores, resultando em uma filosofia absolutamente autônoma dos conteúdos da fé. [40]

Com efeito, a imposição da mentalidade positivista no plano científico afastou a visão metafísica e moral, ao mesmo tempo em que se perdia a referência cristã do mundo, apontando a fé como prejudicial e alienante ao desenvolvimento pleno do uso da razão, dando base para o surgimento de "novas religiões", as quais fomentaram projetos que se transformaram, no plano político e social, em sistemas totalitários considerados traumáticos para a humanidade, afastando-se do centro das relações a pessoa humana e o seu contexto. [41]

Nessa perspectiva, a progressiva separação entre a fé e a razão filosófica conduziu (segundo João Paulo II) a filosofia a um papel marginal, colocando-a entre uma das áreas do saber humano, pois ao invés de buscar a verdade ou o sentido da vida, foi reduzida a uma "razão instrumental", a serviço de fins utilitaristas, de prazer ou de poder, obscurecendo-se a verdadeira dignidade da razão. [42]

Assim, João Paulo II comenta esta progressiva separação entre fé e razão:

"(…) mesmo na reflexão filosófica daqueles que contribuíram para ampliar a distância entre fé e razão, se manifestam às vezes gérmens preciosos de pensamento que, se aprofundados e desenvolvidos com mente e coração retos, podem fazer descobrir o caminho da verdade. Estes gérmens de pensamento podem encontrar-se, por exemplo, nas profundas análises sobre a percepção e a experiência, a imaginação e o inconsciente, sobre a personalidade e a intersubjetividade, a liberdade e os valores, o tempo e a história. (…) Todavia, isto não pode fazer esquecer a necessidade que a atual relação entre a fé e a razão tem de um cuidadoso esforço de discernimento, porque tanto a razão como a fé ficarão reciprocamente mais pobres e débeis." [43]

Assim, é valido o apelo de João Paulo II, no sentido de que "a fé a e a filosofia recuperem aquela unidade profunda que as torna capazes de serem coerentes com a sua natureza, no respeito da recíproca autonomia", pois "ao desassombro (parresia) da fé deve corresponder a audácia da razão." [44]

4.4 A ciência da fé e as exigências da razão filosófica

O homem, por natureza, é filósofo. A palavra de Deus, por sua vez, destina-se a todo homem, de qualquer época e lugar da terra. Nesse contexto, João Paulo II assevera que "a teologia, enquanto elaboração reflexiva e científica da compreensão da palavra divina à luz da fé, não pode deixar de recorrer às filosofias que vão surgindo ao longo da história, tanto para algumas das suas formas de proceder como para realizar funções mais específicas." [45]

Com efeito, a articulação da teologia dogmática deve ser feita por meio de conceituações, formuladas criticamente e acessíveis a todos, a fim de apresentar o sentido universal do mistério de Deus e da salvação. Assim, sem a filosofia não seria possível ilustrar certos conteúdos teleológicos, como a linguagem sobre Deus, as relações pessoais da Santíssima Trindade, a relação entre Deus e o homem e conseqüentemente a identidade de Cristo Jesus, ao mesmo tempo verdadeiro Deus e verdadeiro homem. [46]

Nesse contexto, João Paulo II esclarece que a teologia dogmática, em sua forma explicativa, pressupõe e implica uma filosofia do homem, do mundo e do próprio ser, sendo necessário que a razão do fiel tenha um conhecimento natural, verdadeiro e coerente da criação do mundo e do homem, devendo ser capaz de articular todo esse conhecimento de forma conceitual e argumentativa. [47]

Nesse sentido, a teologia fundamental deverá procurar justificar e explicar a relação entre a fé e a reflexão filosófica. Assim,

"(…) Quando a teologia fundamental estuda a Revelação e a sua credibilidade com o relativo ato de fé, deverá mostrar como emergem, à luz do conhecimento pela fé, algumas verdades que a razão, autonomamente, já encontra ao longo do seu caminho de pesquisa." [48]

Ademais, a relação da filosofia e da teologia com as culturas de cada povo é uma tema bem tratado pelo Papa João Paulo II em sua encíclica, uma vez que:

"as culturas estão intimamente relacionadas com os homens e a sua história, partilham das mesmas dinâmicas do tempo humano. E, conseqüentemente, registram transformações e progressos com os encontros que os homens promovem e com as recíprocas transmissões dos seus modelos de vida. As culturas alimentam-se com a comunicação de valores, e a sua vitalidade e subsistência dependem da sua capacidade de permanecerem abertas para acolher a novidade. Como se explicam tais dinâmicas? Todo homem está integrado numa cultura; depende dela, e sobre ela influi. É simultaneamente filho e pai da cultura na qual está inserido. Em cada manifestação da sua vida, o homem traz consigo algo que o caracteriza no meio da criação: a sua constante abertura ao mistério e o seu desejo inexaurível de conhecimento. Em conseqüência, cada cultura traz gravada em si mesma e deixa transparecer a tensão para uma plenitude. Pode-se, portanto, dizer que a cultura contém em si própria a possibilidade de acolher a revelação divina." [49]

Assim, "uma cultura nunca pode servir de critério de juízo e, menos ainda, de critério último de verdade a respeito da revelação de Deus". Dentro desse contexto, as culturas não são privadas, mas estimuladas a serem iluminadas pelo pensamento do Evangelho, do qual recebem impulso para novos progressos. [50]

Nessa linha de pensamento, João Paulo II acentua a competência atual dos cristãos de extrair do rico patrimônio cultural os elementos compatíveis com a fé, a fim de se obter o enriquecimento do pensamento cristão. Para isso, ressalta-se a observância de determinados critérios, como a universalidade do espírito humano, a observância pela Igreja do respeito aos hábitos culturais diversos dos hábitos greco-latinos, em razão de esse encontro com as diversas outras culturas (principalmente as orientais) poder se retirar ensinamentos para estabelecer um diálogo com essas culturas e construir um caminho para o futuro. [51]

Portanto, é dentro desse contexto que se explicita a relação de reciprocidade circular entre a razão e a fé, de modo que, nos dias atuais, se observa a incidência de uma filosofia cristã, pautada pelos aspectos subjetivos e objetivos, que constantemente desafia a razão da filosofia (por meio da Palavra de Deus) a descobrir novos e inesperados horizontes. [52]


5 Considerações finais

"Nihil obstat publicatur"

"O que vale não é a patente, é o talento"

"O irracionalismo é uma fé irracional na razão"

No contexto de uma sociedade pós-moderna, a cada dia mais aberta e plural em razão das experimentações tecnológicas, científicas e culturais, surge no âmbito das discussões de cunho religioso a necessidade de se rever a relação entre a fé e a razão.

Nesse sentido, a comparação entre as histórias de Sócrates e Jesus Cristo proporcionou uma instigante revelação: ambos, se comparados (mesmo que empiricamente), apresentam algumas divergências, mas em contrapartida, possuem importantes pontos de ligação que tornam a caminhada e o histórico de vidas muito semelhantes. Ambos, por exemplo, morreram para dar vida e sustentabilidade às respectivas idéias que defendiam. Estas idéias, por sua vez, repercutiam com um impacto efetivo no âmbito das respectivas sociedades. Ademais, Sócrates e Jesus Cristo conseguiram um grande feito: produzir frutos (por milênios) das idéias que cultivaram.

Nessa perspectiva, a relação entre a fé e a razão ganha contornos não de rivalidade, mas de cooperação. A filosofia, como acentua a encíclica elaborada por João Paulo II, torna efetiva a compreensão e a interpretação a ciência da fé. A fé, a seu turno, proporciona um novo horizonte – em direção a caminhos instigantes – em que será necessário o manejo e a racionalização do conhecimento filosófico.

Assim, observa-se a importância do tema nesse novo milênio, em que a cada dia a pessoa torna-se mais exigente, em busca de conhecer e interpretar o conjunto de informações que lhe são apresentadas. Este é o ponto da relação entre a fé e a razão: a comparação entre os dois expoentes (Sócrates e Jesus Cristo, que representam esses valores) demonstra a viabilidade dessa comparação e porque não da cooperação entre os institutos, a fim de propiciar ao sujeito a busca pelo conhecimento.


6 Referências

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BÍBLIA, N. T. Epístola de Paulo aos Romanos. Bíblia Sagrada. Trad. da versão dos Monges de Maredsous pelo Centro Bíblico Católico. 111. ed. São Paulo: Ave-Maria, 1997. Cap. 1, vers. 21-32.

BÍBLIA, N. T. Epístola de Paulo aos Romanos. Português. Bíblia Sagrada. Trad. da versão dos Monges de Maredsous pelo Centro Bíblico Católico. 111. ed. São Paulo: Ave-Maria, 1997. Cap. 16, vers. 25-26.

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NOTAS

01 Cf. CARTA Encíclica Fides et Ratio do sumo pontífice João Paulo II aos Bispos da Igreja Católica sobre as relações entre fé e razão. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 13-14.

02 Cf. LIMA, Máriton Silva. A lei na filosofia, na teologia e no direito. Jus Navigandi, Teresina, a. 10, n. 989, 17.03.2006. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/8107>. Acesso em: 14.04.2006.

03 Cf. ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia. 6. ed. Vol. I. Lisboa: Presença, 1999.

4 Cf. ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia. 6. ed. Vol. I. Lisboa: Presença, 1999.

05 Cf. CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2003.

06 Cf. CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2003.

07 Cf. ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia. 6. ed. Vol. I. Lisboa: Presença, 1999.

08 Cf. CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2003.

09 Cf. CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2003.

10 Cf. ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia. 6. ed. Vol. I. Lisboa: Presença, 1999.

11 Cf. ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia. 6. ed. Vol. I. Lisboa: Presença, 1999.

12 Cf. GAARDER, Josten. O mundo de Sofia. São Paulo: Cia. das Letras, 1998.

13 Cf. A BÍBLIA SAGRADA: antigo e novo testamentos. Trad. João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Alfalit Brasil, 1996.

14 Cf BÍBLIA, N. T. Evangelhos de Mateus e Lucas. Português. A Bíblia Sagrada: antigo e novo testamentos. Trad. João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Alfalit Brasil, 1996.

15 Cf. BÍBLIA, N. T. Evangelho de Lucas. Português. A Bíblia Sagrada: antigo e novo testamentos. Trad. João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Alfalit Brasil, 1996.

16 Cf. CARTA Encíclica Fides et Ratio do sumo pontífice João Paulo II aos Bispos da Igreja Católica sobre as relações entre fé e razão. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 96.

17 Cf. CURY, Augusto. A análise da inteligência de Cristo. São Paulo: Academia de Inteligência, 2000.

18 Cf. BRANCO, Raul. Os ensinamentos de Jesus e a tradição esotérica cristã. Loja Teosófica São Paulo. Disponível em: <http://www.teosofia.com.br/artigo32.php>. Acesso em: 26.03.2006.

19 Cf. CURY, Augusto. A análise da inteligência de Cristo. São Paulo: Academia de Inteligência, 2000.

20 Cf. BÍBLIA, N. T. Evangelho de Lucas. Português. A BÍBLIA SAGRADA: antigo e novo testamentos. Trad. João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Alfalit Brasil, 1996.

21 Cf. BÍBLIA, N. T. I Epístola de Paulo aos Tessalonicenses. Bíblia Sagrada. Trad. da versão dos Monges de Maredsous pelo Centro Bíblico Católico. 111. ed. São Paulo: Ave-Maria, 1997. Cap. 2, vers. 13.

22 Cf. BÍBLIA, N. T. I Epístola de Paulo aos Coríntios. Português. Bíblia Sagrada. Trad. da versão dos Monges de Maredsous pelo Centro Bíblico Católico. 111. ed. São Paulo: Ave-Maria, 1997. Cap. 2, vers. 7; e BÍBLIA, N. T. Epístola de Paulo aos Romanos. Português. Bíblia Sagrada. Trad. da versão dos Monges de Maredsous pelo Centro Bíblico Católico. 111. ed. São Paulo: Ave-Maria, 1997. Cap. 16, vers. 25-26.

23 Cf. CARTA Encíclica Fides et Ratio do sumo pontífice João Paulo II aos Bispos da Igreja Católica sobre as relações entre fé e razão. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 15.

24 Cf. AVIZ, Dom João Braz de. "Deus amou tanto o mundo que deu o Seu filho unigênito" (Jo 3, 16). Palavra do Pastor. In: O povo de Deus: folha semanal da arquidiocese de Brasília. Brasília, ano XLI, n. 13, 26.03.2006.

25 Cf. BÍBLIA, N. T. João. Bíblia Sagrada. Trad. da versão dos Monges de Maredsous pelo Centro Bíblico Católico. 111. ed. São Paulo: Ave-Maria, 1997. Cap. 3, vers. 14-17.

26 Cf. CARTA Encíclica Fides et Ratio do sumo pontífice João Paulo II aos Bispos da Igreja Católica sobre as relações entre fé e razão. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 15-16.

27 Cf. BÍBLIA, N. T. Epístola de Paulo aos Efésios. Bíblia Sagrada. Trad. da versão dos Monges de Maredsous pelo Centro Bíblico Católico. 111. ed. São Paulo: Ave-Maria, 1997. Cap. 2, vers. 4-10.

28 Cf. BÍBLIA, N. T. Atos dos Apóstolos. Bíblia Sagrada. Trad. da versão dos Monges de Maredsous pelo Centro Bíblico Católico. 111. ed. São Paulo: Ave-Maria, 1997. Cap. 10, vers. 1-8.

29 Cf. BÍBLIA, N. T. Atos dos Apóstolos. Bíblia Sagrada. Trad. da versão dos Monges de Maredsous pelo Centro Bíblico Católico. 111. ed. São Paulo: Ave-Maria, 1997. Cap. 10, vers. 34-43.

30 Cf. CARTA Encíclica Fides et Ratio do sumo pontífice João Paulo II aos Bispos da Igreja Católica sobre as relações entre fé e razão. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 05-06.

31 Cf. CARTA Encíclica Fides et Ratio do sumo pontífice João Paulo II aos Bispos da Igreja Católica sobre as relações entre fé e razão. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 06-07.

32 Cf. CARTA Encíclica Fides et Ratio do sumo pontífice João Paulo II aos Bispos da Igreja Católica sobre as relações entre fé e razão. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 07-08.

33 Cf. CARTA Encíclica Fides et Ratio do sumo pontífice João Paulo II aos Bispos da Igreja Católica sobre as relações entre fé e razão. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 08.

34 Cf. CARTA Encíclica Fides et Ratio do sumo pontífice João Paulo II aos Bispos da Igreja Católica sobre as relações entre fé e razão. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 10.

35 Cf. CARTA Encíclica Fides et Ratio do sumo pontífice João Paulo II aos Bispos da Igreja Católica sobre as relações entre fé e razão. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 51.

36 Cf. BÍBLIA, N. T. Epístola de Paulo aos Romanos. Bíblia Sagrada. Trad. da versão dos Monges de Maredsous pelo Centro Bíblico Católico. 111. ed. São Paulo: Ave-Maria, 1997. Cap. 1, vers. 19-21; Cap. 2, vers. 14-15; BÍBLIA, N. T. Atos dos Apóstolos. Bíblia Sagrada. Trad. da versão dos Monges de Maredsous pelo Centro Bíblico Católico. 111. ed. São Paulo: Ave-Maria, 1997. Cap. 14, vers. 16-17.

37 Cf. BÍBLIA, N. T. Epístola de Paulo aos Romanos. Bíblia Sagrada. Trad. da versão dos Monges de Maredsous pelo Centro Bíblico Católico. 111. ed. São Paulo: Ave-Maria, 1997. Cap. 1, vers. 21-32.

38 Cf. CARTA Encíclica Fides et Ratio do sumo pontífice João Paulo II aos Bispos da Igreja Católica sobre as relações entre fé e razão. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 52.

39 Cf. CARTA Encíclica Fides et Ratio do sumo pontífice João Paulo II aos Bispos da Igreja Católica sobre as relações entre fé e razão. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 60.

40 Cf. CARTA Encíclica Fides et Ratio do sumo pontífice João Paulo II aos Bispos da Igreja Católica sobre as relações entre fé e razão. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 64.

41 Cf. CARTA Encíclica Fides et Ratio do sumo pontífice João Paulo II aos Bispos da Igreja Católica sobre as relações entre fé e razão. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 65.

42 Cf. CARTA Encíclica Fides et Ratio do sumo pontífice João Paulo II aos Bispos da Igreja Católica sobre as relações entre fé e razão. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 66-67.

43 Cf. CARTA Encíclica Fides et Ratio do sumo pontífice João Paulo II aos Bispos da Igreja Católica sobre as relações entre fé e razão. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 67-68.

44 Cf. CARTA Encíclica Fides et Ratio do sumo pontífice João Paulo II aos Bispos da Igreja Católica sobre as relações entre fé e razão. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 68.

45 Cf. CARTA Encíclica Fides et Ratio do sumo pontífice João Paulo II aos Bispos da Igreja Católica sobre as relações entre fé e razão. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 87.

46 Cf. CARTA Encíclica Fides et Ratio do sumo pontífice João Paulo II aos Bispos da Igreja Católica sobre as relações entre fé e razão. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 89.

47 Cf. CARTA Encíclica Fides et Ratio do sumo pontífice João Paulo II aos Bispos da Igreja Católica sobre as relações entre fé e razão. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 89.

48 Cf. CARTA Encíclica Fides et Ratio do sumo pontífice João Paulo II aos Bispos da Igreja Católica sobre as relações entre fé e razão. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 90.

49 Cf. CARTA Encíclica Fides et Ratio do sumo pontífice João Paulo II aos Bispos da Igreja Católica sobre as relações entre fé e razão. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 94-95.

50 Cf. CARTA Encíclica Fides et Ratio do sumo pontífice João Paulo II aos Bispos da Igreja Católica sobre as relações entre fé e razão. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 96.

51 Cf. CARTA Encíclica Fides et Ratio do sumo pontífice João Paulo II aos Bispos da Igreja Católica sobre as relações entre fé e razão. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 96.

52 Cf. CARTA Encíclica Fides et Ratio do sumo pontífice João Paulo II aos Bispos da Igreja Católica sobre as relações entre fé e razão. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 98-101.


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Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

GONTIJO, André Pires; TEIXEIRA, Laís Helena Riecken et al. Sócrates e Jesus Cristo: a relação entre a fé e a razão. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 11, n. 1061, 28 maio 2006. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/8444. Acesso em: 7 maio 2024.