Artigo Destaque dos editores

A efetividade da proteção do direito à diversidade cultural sob a perspectiva universalista e multiculturalista dos direitos humanos

Exibindo página 2 de 2
03/04/2010 às 00:00
Leia nesta página:

5.Considerações finais

A cultura é um fenômeno fundamental no desenvolvimento dos seres humanos e é um elemento importante na formação da identidade dos indivíduos, sendo imprescindível para a configuração e aprimoramento da vida em sociedade.

Em relação à perspectiva universalista, acredito que universalizar não é tornar práticas sociais e culturais em ideias homogêneas, criando um pensamento único. Refere-se, na realidade, em possibilitar que, através do diálogo intercultural, se alcance o respeito a princípios comuns por todos os povos. Estes princípios seriam direitos fundamentais que cada povo deveria respeitar ao expressar suas tradições e crenças.

Todavia, não se pode negar que os fundamentos da universalidade dos Direitos Humanos já foram utilizados em alguns momentos da história da civilização ocidental para justificar processos de dominação de determinados povos em relação a outros. No entanto, considero que tais situações devam ser consideradas como manipulações patológicas dos fundamentos do Universalismo.

Em relação à perspectiva multiculturalista, acredito ser está a que mais se aproxima da realidade do mundo intercultural no qual vivemos, sendo plenamente compatível com os pressupostos da perspectiva universalista quando interpretada de forma ponderada e buscando o aprimoramento e enriquecimento das relações interculturais.

Diante da questão referente à possibilidade de proteção da diversidade cultural no âmbito internacional a partir de pressupostos universalistas, considero que a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi um importante marco histórico no caminho do aprimoramento do diálogo intercultural e construção de princípios fundamentais comuns a todos os povos. Acredito que, conforme analisado no transcorrer deste artigo, os fundamentos da perspectiva multiculturalista e universalista dos Direitos Humanos não são incompatíveis, devendo ser interpretados de forma a possibilitar um melhor convívio e respeito entre as diversas culturas.


Referências bibliográficas:

ALMEIDA, Guilherme Assis de; PERRONE-MOISÉS, Cláudia. Direito internacional dos direitos humanos: instrumentos básicos. São Paulo: Atlas, 2002.

ALSTON, Philip; CRAWFORD, James. The future of UN human rights treaty monitoring. Cambridge: Cambridge University Press, 2000.

ALSTON, Philip; ROBINSON, Mary (Orgs.). Human Rights and development: towards mutual reinforcement. Oxford: Oxford University Press, 2005.

ALSTON, Philip. Non-state actors and human rights. Oxford: Oxford University Press, 2005.

ALVES, José Augusto Lindgren. Os direitos humanos como tema global. São Paulo: Perspectiva e Fundação Alexandre de Gusmão, 1994.

ARENDT, Hannah. A condição humana. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

BALDI, César Augusto. (Org.). Direitos Humanos na Sociedade Cosmopolita. Rio de Janeiro: Renovar, 2004.

BATISTA, Vanessa Oliveira; Atualizando a Declaração dos Direitos Humanos: Os Direitos das Minorias. In: MAGALHÃES, José Luiz Quadros de; PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS. Direitos Humanos e direitos dos cidadãos. Belo Horizonte: PUC Minas, 2001.

BOUCAULT, Carlos Eduardo de Abreu; ARAUJO, Nadia de (Orgs.). Os direitos humanos e o direito internacional. Rio de Janeiro: Renovar, 1999.

BRANT, Leonardo Nemer Caldeira. A Proteção Internacional dos Direitos Humanos. In. MAGALHÃES, José Luiz Quadros de; PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS. Direitos humanos e direitos dos cidadãos. Belo Horizonte: PUC Minas, 2001.

CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. Trad. Klauss Brandini Gerhardt. São Paulo: Paz e Terra , 2001.

CASTELLS, Manuel; GERHARDT, Klauss Brandini. A sociedade em rede. Trad. Roneide Venancio Majer. 9. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2006.

COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 4. ed. São Paulo. Saraiva, 2005.

FALK, Richard A. Human rights horizon: the pursuit of justice in a globalizing world. New York/ London: Routledge, 2000.

FARIA, José Eduardo (Org.). Direitos humanos, direitos sociais e justiça. São Paulo: Malheiros, 2005.

FLOOD, Patrick James. The Effectiveness of UN Human Rights Institutions. Westport: Praeger Publishers, 1998.

FORSYTHE, David P. Human rights in international relations (Themes in international relations). 2. ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.

GEERTZ, C. O impacto do conceito de cultura no conceito de homem. In: The Interpretation of Cultures. Nova York: Basic Books, 1973.

GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

GODINHO, Fabiana de Oliveira. A proteção internacional dos direitos humanos. Coleção Para Entender Brant, Leonardo Nemer Caldeira (Coord.). Belo Horizonte: Del Rey, 2006.

GOODHART, Michael. Democracy as human rights: freedom and equality in the age of globalization. Oxford: Routledge, 2005.

GOULD, Carol C. Globalizing democracy and human rights. Cambridge: Cambridge University Press, 2004.

GROFFIER, Ethel; PARADIS, Michel. The Notion of Tolerance and Human Rights: Essays in Honour of Raymond Klibansky. Montreal: Carleton University Press, 1992.

HABERMAS, Jürgen. A inclusão do outro: estudos de teoria política. Trad.

George Sperber e Paulo Astor Soethe. 2. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2004.

Assine a nossa newsletter! Seja o primeiro a receber nossas novidades exclusivas e recentes diretamente em sua caixa de entrada.
Publique seus artigos

HASENKAMP, Miao-Ling. Universalization Of Human Rights? The effectiveness of western human rights policies towards developing countries after the Cold War. New York: Peter Lang Publishing, 2004.

JØRGENSEN, Rikke Frank. Human rights in the global information society (The information revolution & global politics). Cambridge: The MIT Press, 2006.

KERSTING, Wolfgang. Universalismo e direitos humanos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.

LAFER, Celso. A reconstrução dos Direitos Humanos: um diálogo com o pensamento de Hanna Arendt. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

LAFER, Celso. A internacionalização dos Direitos Humanos: constituição, racismo e relações internacionais. Baureri: Manole, 2005.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.

MARTIN, Francisco Forrest; SCHNABLY, Stephen J.; WILSON, Richard; SIMON Jonathan; TUSHNET, Mark. International human rights and humanitarian law: treaties, cases, and analysis. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.

MCELDOWNEY, John. Human rights in transition. New York: Peter Lang Publishing, 2003.

MELLO, Luiz Gonzaga de. Antropologia cultural: iniciação, teoria e temas. Petrópolis: Vozes, 1986.

PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos, democracia e integração regional: os desafios da globalização. Revista de Direito Constitucional e Internacional, São Paulo, v.9, n.37 , p.109-128, out./dez. 2001.

PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos Humanos. São Paulo: Max Limonad, 2003.

PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e a jurisdição constitucional internacional. Revista Brasileira de Direito Constitucional, São Paulo, n. 1, p. 147-161, jan./fev. 2003.

PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

RAMOS, André de Carvalho. Processo internacional de direitos humanos. Rio de Janeiro: Renovar, 2002.

SARLET, Ingo Wolfgang (Org.). Direitos fundamentais sociais: estudos de direito constitucional, internacional e comparado. Rio de Janeiro: Renovar, 2003.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Modernidade, identidade e a cultura de fronteira. Revista Crítica de Ciências Sociais, Coimbra, Portugal , n.38 , p. 11-39, dez. 1993.

SANTOS, Boaventura de Souza. Uma concepção multicultural de Direitos Humanos. Lua Nova - Revista de cultura e Política, vol. 39, p. 105-24, Cedec, São Paulo, 1997.

SANTOS, Boaventura de Sousa (Org). A globalização e as ciências sociais. São Paulo: Cortez, 2002.

SANTOS, Boaventura de Sousa; RODRIGUEZ-GARAVITO, César A. Law and globalization from below towards a cosmopolitan legality. Cambridge studies in law and society. Cambridge: Cambridge University Press, 2005.

SHARMA, Arvind. Are human rights western? A contribution to the dialogue of civilizations. New York: Oxford University Press, 2006.

STEINER, Henry J.; ALSTON, Philip. International human rights in context: law, politics, morals. Oxford University Press, 2000.

SYMONIDES, Janusz. Human rights: international protection, monitoring, enforcement. Hampshire: Ashgate Publishing, 2004.

TAVARES, Quintino Lopes Castro. Multiculturalismo. In: LOIS, Cecilia Caballero (Org.). Justiça e Política: entre o universalismo e o comunitarismo. São Paulo: Landy, 2005.

TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Princípios do direito internacional contemporâneo. Brasília: Universidade de Brasília, 1981.

TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. A proteção internacional dos direitos humanos: fundamentos jurídicos e instrumentos básicos. São Paulo: Saraiva, 1991.

TRINDADE, Antônio Augusto Cançado; PEYTRIGNET, Gerard; RUIZ DE SANTIAGO, Jaime. As três vertentes da proteção internacional dos direitos da pessoa humana: direitos humanos, direito humanitário, direito dos refugiados. San José, Costa Rica: Instituto Interamericano de Direitos Humanos, 1996.

TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Tratado de direito internacional dos direitos humanos. vol. I. Porto Alegre: Sergio Antônio Fabris, 1997a.

TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Tratado de direito internacional dos direitos humanos. vol. III. Porto Alegre: Sergio Antônio Fabris, 1997b.

TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. A humanização do direito internacional. Revista Jurídica Consulex, Brasília, v. 9, n. 203, p.07-10, jun. 2005.


Notas

  1. Anthropology has largely abandoned the understanding of culture as a homogenous, integral and coherent unity. (…) Cultures are complex, variable, multivocal and above all contested. Rather than static things, cultures are fluid complexes of intersubjective meanings and practices. (PREIS apud DONNELLY, 2003, p. 86).
  2. As soon as the news of the Project became known, the American Anthropological Association, through the group’s executive board, warned the Human Rights Commission through a letter against drafting a ‘statement of rights only in terms of the values prevalent in the countries of Western Europe and America’. One was entitled to wonder if any unifying elements could be discerned within the vast variety of political, socio-economic, cultural, and religious manifestations which characterized the globe. However, while the anthropologists working from within a framework of cultural relativism issued a warning, the UNESCO Committee on the Theoretical Bases of Human Rights offered hope by pointing out that ‘even people who seem to be far apart in theory can agree that certain things are so terrible in practice that no one will publicly approve them and that certain things are so good in practice that no one will publicy oppose them’. (SHARMA, 2006, introdução IX).
  3. University of Buffalo Law professor Makau Mutua described the Declaration as an arrogant attempt to universalize a particular set of ideas and to impose them upon three-quarters of the world´s population, most of whom were not represented at its creation. Kenya-born Mutua said, ‘Muslims, Hindus, Africans, non-Judeo-Christians, feminists, critical theorists and other scholars of an inquiring bent of mind have exposed the Declaration’s bias and exclusivity. (GLENDON apud SHARMA, 2006, introdução XII).
  4. Another widespread position is that the norms of the UDHR have become binding as part of customary international law, legal principles of the so-called civilized nations. This makes the standards applicable to all nations, whether or not they have expressed consent. (BURKE apud SHARMA, 2006, p.9).
  5. Many critics hold that the vagaries of the UN Charter do not permit one to conclude that states have incurred legal obligations merely by virtue of having ratified the instrument. The content of the human-rights duties held by states is nebulous, making it impossible to determine the nature of their obligations. (RENTELN apud SHARMA, 2006, p.9).
Assuntos relacionados
Sobre a autora
Verônica Vaz de Melo

Mestre em Direito Público na linha de pesquisa "Direitos humanos, processos de integração e constitucionalização do Direito Internacional" pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Analista internacional graduada em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.Especialista lato sensu em Direito Público pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Advogada graduada pela Faculdade de Direito Milton Campos.

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

MELO, Verônica Vaz. A efetividade da proteção do direito à diversidade cultural sob a perspectiva universalista e multiculturalista dos direitos humanos. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 15, n. 2467, 3 abr. 2010. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/14588. Acesso em: 30 abr. 2024.

Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!
Publique seus artigos